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A Contribuição da Orientadora Educacional diante da Violência Doméstica

A Psicopedagogia, enquanto área de conhecimento que investiga os processos de aprendizagem e suas dificuldades, encontra-se em posição privilegiada para compreender e intervir em situações onde a violência doméstica interfere no desenvolvimento educacional da criança. A orientação educacional, por sua vez, constitui uma especialização pedagógica que visa estabelecer o equilíbrio e a harmonia entre os aspectos intelectual, físico, social, moral, estético, político, educacional e vocacional no contexto escolar.

Quando nos deparamos com pais que apresentam comportamentos abusivos, a complexidade da situação exige uma abordagem multidisciplinar, fundamentada em conhecimentos psicopedagógicos sólidos e estratégias de comunicação específicas. A Lei Federal nº 13.431/2017, que estabelece o sistema de garantia de direitos da criança e do adolescente vítima ou testemunha de violência, fornece o marco legal para a atuação profissional nestes casos.

Este documento tem como objetivo fornecer às orientadoras educacionais um conjunto de estratégias, técnicas e reflexões fundamentadas na Psicopedagogia para abordar adequadamente situações envolvendo pais abusadores, sempre priorizando a proteção integral da criança e o fortalecimento dos vínculos educacionais saudáveis.

Fundamentação Teórica: A Psicopedagogia e a Violência Intrafamiliar

O Impacto da Violência Doméstica na Aprendizagem

A violência doméstica manifesta-se através de diferentes formas: queimaduras, espancamentos, xingamentos, abuso sexual, trabalho infantil, negligência emocional, entre outras modalidades definidas pelo Estatuto da Criança e do Adolescente. Cada uma dessas manifestações produz impactos específicos no desenvolvimento neuropsicológico da criança, afetando diretamente sua capacidade de aprender e se relacionar no ambiente escolar.

Do ponto de vista psicopedagógico, a violência intrafamiliar cria o que denominamos de "modalidades de aprendizagem enrijecidas". Estas modalidades representam padrões de funcionamento cognitivo e emocional que a criança desenvolve como mecanismo de proteção, mas que acabam por limitar sua capacidade de explorar, questionar e construir conhecimento de forma saudável.

A criança vítima de violência doméstica frequentemente apresenta dificuldades de concentração, hipervigilância, baixa autoestima, dificuldades de relacionamento interpessoal e, em muitos casos, comportamentos regressivos ou agressivos que se manifestam no contexto escolar. Estes sintomas não devem ser compreendidos como "problemas de comportamento" isolados, mas como sinais de um sofrimento psíquico profundo que requer intervenção especializada.

 O Ciclo da Violência e suas Implicações Educacionais

Compreender o ciclo da violência é fundamental para que a orientadora educacional possa desenvolver estratégias eficazes de abordagem. O ciclo da violência doméstica caracteriza-se por três fases distintas: a fase de tensão, a fase de explosão (agressão) e a fase de reconciliação ou "lua de mel".

Durante a fase de tensão, a criança vive em estado de alerta constante, antecipando a violência que está por vir. Este estado de hipervigilância compromete significativamente sua capacidade de concentração e aprendizagem. Na fase de explosão, a criança experimenta o trauma direto da violência, seja como vítima ou testemunha. A fase de reconciliação, por sua vez, cria confusão emocional, pois o agressor demonstra arrependimento e carinho, gerando sentimentos ambivalentes na criança.

Este ciclo repetitivo produz o que a literatura psicopedagógica denomina de "aprendizagem traumática", caracterizada pela dificuldade de estabelecer vínculos de confiança com figuras de autoridade (incluindo professores e orientadores), resistência a mudanças, dificuldades de memória e concentração, e comportamentos de evitação ou confronto excessivo.

Características Psicológicas dos Pais Abusadores

Para desenvolver estratégias eficazes de comunicação, é essencial compreender o perfil psicológico dos pais abusadores. A literatura especializada identifica alguns padrões comportamentais recorrentes que podem auxiliar a orientadora educacional na identificação e abordagem dessas situações.

Os pais abusadores frequentemente apresentam histórico pessoal de violência na infância, baixa tolerância à frustração, dificuldades de controle emocional, tendência ao isolamento social, uso de substâncias psicoativas, transtornos de personalidade e crenças distorcidas sobre educação e disciplina infantil. Muitos destes pais foram, eles próprios, vítimas de violência doméstica, perpetuando um ciclo intergeracional de abuso.

É importante destacar que o comportamento abusivo não se limita a uma classe social específica. A violência doméstica ocorre em todos os estratos socioeconômicos, embora possa manifestar-se de formas diferentes. Em famílias de maior poder aquisitivo, a violência pode ser mais sutil, manifestando-se através de negligência emocional, pressão excessiva por desempenho acadêmico ou isolamento social da criança.

Papel Mediador da Orientação Educacional

A orientação educacional ocupa uma posição estratégica no sistema de proteção à criança, funcionando como ponte entre a família, a escola e os órgãos de proteção social. Esta posição mediadora confere à orientadora educacional tanto oportunidades únicas de intervenção quanto responsabilidades específicas que devem ser exercidas com conhecimento técnico e sensibilidade humana.

Segundo Grinspun, o orientador educacional deve "compreender a sociedade na qual se insere o aluno, interpretando a relação escola e sociedade". No contexto da violência doméstica, esta compreensão ampliada torna-se fundamental para identificar os fatores de risco e proteção presentes no ambiente familiar e social da criança.

A atuação psicopedagógica da orientadora educacional deve pautar-se pelos princípios da escuta ativa, do acolhimento incondicional da criança, da comunicação não violenta com as famílias e da articulação eficaz com a rede de proteção social. Estes princípios constituem os pilares sobre os quais se constroem as estratégias específicas de abordagem de pais abusadores.

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