A anorexia nervosa é um transtorno alimentar complexo, que atinge principalmente adolescentes, embora possa surgir também na infância. Caracteriza-se pela recusa em manter um peso corporal saudável, associada ao medo intenso de engordar e a uma distorção da imagem corporal. O impacto desse transtorno ultrapassa a dimensão física: ele compromete o desenvolvimento emocional, social e cognitivo da criança ou adolescente, afetando diretamente o ambiente escolar e familiar.
Como psicopedagoga, observo que os sinais da anorexia podem se manifestar de forma silenciosa, mas progressiva, influenciando o desempenho escolar, as relações interpessoais e a autoestima. Por isso, é fundamental que tanto a escola quanto a família estejam atentas e preparadas para identificar precocemente os sinais de alerta e oferecer o suporte necessário.
No Ambiente Escolar
O espaço escolar é muitas vezes o primeiro a perceber que algo não vai bem. Mudanças no comportamento do aluno, como isolamento social, queda no rendimento escolar, recusa em participar de atividades físicas ou até desmaios frequentes, podem indicar a presença de um transtorno alimentar. Além disso, comentários sobre o próprio corpo ou hábitos alimentares rígidos (como não comer na hora do recreio ou evitar festas escolares) também merecem atenção.
A escola deve assumir um papel ativo na promoção da saúde emocional. É preciso criar um ambiente acolhedor, onde a diversidade corporal seja respeitada e valorizada. Trabalhar temas como aceitação do corpo, alimentação consciente e autoestima, por meio de projetos interdisciplinares, pode ajudar a desconstruir padrões estéticos nocivos e prevenir transtornos alimentares.
A escuta sensível por parte dos professores e orientadores pedagógicos é essencial. Ao perceberem sinais preocupantes, devem acionar a equipe psicopedagógica ou o serviço de orientação educacional da escola, que poderá conversar com a família e indicar o encaminhamento adequado.
No Ambiente Familiar
No núcleo familiar, é importante observar hábitos alimentares, comportamentos de rejeição ao próprio corpo e mudanças repentinas de humor. Muitas vezes, os pais podem interpretar a recusa alimentar como “fase” ou “birra”, sem perceber a gravidade da situação.
A anorexia pode surgir em famílias com alto grau de exigência, perfeccionismo ou rigidez em relação à aparência física. Por outro lado, ambientes onde há pouca escuta ou apoio emocional também podem favorecer o desenvolvimento de quadros como esse. Por isso, fortalecer o diálogo, demonstrar acolhimento e evitar comentários negativos sobre o corpo da criança ou de outras pessoas são atitudes fundamentais.
A psicopedagogia, neste contexto, atua como ponte entre a escola, a família e os profissionais da saúde. O trabalho psicopedagógico ajuda a compreender o impacto do transtorno nos processos de aprendizagem e na construção da identidade do sujeito, colaborando com estratégias de apoio pedagógico e emocional.
Conclusão
A anorexia não é uma escolha, nem um capricho — é uma doença que precisa ser levada a sério e tratada com empatia e responsabilidade. A integração entre escola e família é fundamental para que a criança ou adolescente encontre um ambiente seguro, onde possa se reestruturar emocionalmente e retomar seu desenvolvimento de forma saudável.
Como psicopedagogos, devemos sempre olhar além dos sintomas visíveis, buscando compreender a história por trás de cada comportamento. Educar também é cuidar — e cuidar é, sobretudo, escutar, acolher e respeitar.