A implementação de atividades práticas específicas para o desenvolvimento da fala constitui um dos pilares fundamentais do trabalho escolar com alunos que apresentam dislalia. Essas atividades devem ser planejadas de forma sistemática e integradas ao currículo regular, garantindo que o aluno receba estímulos adequados de forma contínua e contextualizada.
Atividades com Fichas Ilustradas
As fichas ou cartelas ilustradas representam uma ferramenta pedagógica extremamente versátil e eficaz no trabalho com alunos com dislalia. Essas atividades permitem trabalhar a linguagem e a pronúncia das palavras de forma interessante e lúdica, auxiliando não apenas alunos com dislalia, mas também aqueles com gagueira, além de incentivar uma pronúncia correta e enriquecer o vocabulário de toda a turma.
Uma atividade particularmente eficaz envolve sentar os alunos em círculo, onde o professor mostra uma ficha e pede que pronunciem o nome do desenho apresentado. Durante essa atividade, é fundamental que o professor mantenha uma conversa informal, incentivando a pronúncia correta sem intimidar quem errou, simplesmente repetindo da forma correta a pronúncia. Essa abordagem cria um ambiente seguro e encorajador para a prática da fala.
Outra variação interessante desta atividade consiste em colocar fichas ilustradas embaralhadas no centro do círculo, pedindo que cada aluno retire uma carta sem mostrar aos colegas. Em seguida, cada um deve fazer a mímica dos desenhos ou ilustrações que pegaram, enquanto os demais tentam adivinhar. Essa dinâmica é particularmente valiosa porque, sem perceber, a criança estará pronunciando vários nomes e palavras durante o processo de adivinhação, proporcionando prática natural e espontânea da fala.
Atividades de Criação de Histórias
A criação colaborativa de histórias utilizando fichas ilustradas representa outra estratégia pedagógica altamente eficaz. Nessa atividade, cada aluno pega uma carta e contribui para a construção de uma narrativa coletiva, sempre incluindo o nome do desenho ou ilustração que está em seu poder. Por exemplo, se um aluno pega a carta de um cachorro e pronuncia "tachorro", deve ser incentivado a pronunciar novamente de forma correta, sempre com paciência e sem buscar resultados imediatos, evitando causar constrangimento ou apelidos depreciativos.
Essa atividade é particularmente valiosa porque combina o desenvolvimento da fala com o estímulo à criatividade, imaginação e habilidades narrativas. Além disso, em classes cuja faixa etária permita, pode ser feito o registro escrito do texto pelos próprios alunos, integrando o desenvolvimento da fala com as habilidades de escrita.
Exercícios de Motricidade Orofacial
A implementação de exercícios específicos de motricidade orofacial pode contribuir significativamente para o desenvolvimento da articulação correta dos fonemas. Atividades como soprar algodão ou vela usando canudinho, encher balões, estalar a língua imitando o trote do cavalo, tocar música no pente revestido de papel fino, recitar versos, cantar músicas e falar trava-línguas são exemplos de exercícios que podem ser facilmente incorporados à rotina escolar.
Esses exercícios devem ser realizados de forma regular e sistemática, preferencialmente integrados a momentos lúdicos e prazerosos da rotina escolar. É importante que sejam apresentados como jogos e brincadeiras, evitando que a criança os perceba como "exercícios corretivos" que possam gerar ansiedade ou resistência.
Trabalho Colaborativo: Escola, Família e Profissionais Especializados
O sucesso no atendimento a alunos com dislalia depende fundamentalmente do estabelecimento de uma rede colaborativa eficaz entre escola, família e profissionais especializados. Essa colaboração deve ser estruturada, sistemática e orientada por objetivos comuns claramente definidos.
O Papel da Família no Processo
A participação ativa da família é essencial para o sucesso do trabalho desenvolvido na escola. Pesquisas demonstram que a participação do professor e da família da criança para a identificação e análise da situação de dificuldade enfrentada é fundamental para o desenvolvimento de estratégias eficazes.
A escola deve orientar as famílias sobre como podem contribuir para o desenvolvimento da fala de seus filhos em casa. É importante que os pais compreendam que devem repetir somente a forma correta das palavras, evitando completar as frases da criança, pois ela precisa fazer suas próprias tentativas. Além disso, os pais devem ser orientados a articular bem as palavras para que a criança perceba as diferenças, e a ficarem atentos a possíveis dificuldades relacionadas à audição e/ou visão.
A família também deve ser orientada sobre a importância de acompanhar o tratamento da criança no ambiente escolar, mantendo-se sempre pronta a auxiliar. Os pais devem compreender que serão a ponte entre a escola e os profissionais especializados no tratamento, sendo parte integrante do processo, não apenas espectadores passivos.
Integração com Profissionais Especializados
A escola deve estabelecer canais de comunicação eficazes com os profissionais especializados que atendem o aluno, incluindo fonoaudiólogos, psicopedagogos e psicólogos. Essa integração permite o alinhamento de estratégias e objetivos, garantindo que o trabalho desenvolvido na escola seja complementar e coerente com as intervenções especializadas.
É fundamental que a escola receba orientações específicas dos profissionais especializados sobre como adaptar suas práticas pedagógicas às necessidades particulares de cada aluno. Essas orientações devem ser documentadas e compartilhadas com todos os professores que trabalham com a criança, garantindo consistência na abordagem.
