Como psicopedagoga, entendo que a base para um desenvolvimento saudável e integral começa em casa. No mundo de hoje, permeado por telas e conexões, o papel da família transcende os ensinamentos tradicionais e agora inclui uma nova e crucial responsabilidade: a educação midiática. Não se trata de proibir ou temer a tecnologia, mas de guiar, dialogar e construir, junto com os filhos, as habilidades necessárias para navegar neste universo de forma crítica, segura e ética.
Muitos pais se sentem inseguros, afinal, grande parte cresceu em um mundo offline e agora precisa orientar uma geração que já "nasce sabendo" manusear dispositivos. No entanto, é fundamental desfazer o mito do "nativo digital". Saber usar um aplicativo não é o mesmo que compreender seus riscos, suas intenções e seu impacto emocional. É nesse ponto que a mediação familiar se torna insubstituível.
Do ponto de vista psicopedagógico, a ausência de um diálogo aberto sobre o consumo de mídias pode levar a diversos desafios:
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Isolamento e Ansiedade: A exposição a vidas "perfeitas" nas redes sociais, a pressão por engajamento e o medo de ficar de fora podem gerar quadros de ansiedade e uma percepção distorcida da realidade.
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Vulnerabilidade à Desinformação: Crianças e adolescentes ainda estão desenvolvendo o pensamento abstrato e crítico. Sem orientação, tornam-se mais suscetíveis a acreditar e compartilhar notícias falsas (fake news), discursos de ódio e desafios perigosos.
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Riscos à Privacidade e Segurança: A noção de privacidade é complexa. Os jovens podem não compreender as consequências de compartilhar dados pessoais, fotos íntimas (nudes) ou de interagir com estranhos.
Como a família pode, então, ser a protagonista na educação midiática?
A educação midiática em casa não é uma aula formal, mas uma prática contínua de diálogo e exemplo. Algumas estratégias são fundamentais:
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Seja o Exemplo: Os adolescentes observam mais o que os pais fazem do que ouvem o que eles dizem. Antes de compartilhar uma notícia, verifique a fonte em voz alta. Mostre que você também questiona e analisa o que recebe. Respeite a privacidade do seu filho, pedindo permissão antes de postar fotos ou informações sobre ele.
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Crie um Ambiente de Diálogo Aberto: Em vez de apenas controlar o tempo de tela, interesse-se pelo que seus filhos consomem. Pergunte sobre os jogos, os influenciadores que seguem e os vídeos a que assistem. Conversem sobre os sentimentos que esses conteúdos geram. Esse interesse genuíno constrói a confiança necessária para que eles o procurem quando encontrarem algo estranho ou desconfortável.
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Naveguem Juntos: Explorem as configurações de privacidade das redes sociais juntos. Assistam a um filme ou série e conversem sobre a representação de personagens e os estereótipos. Analisem uma propaganda e discutam as técnicas usadas para convencer o consumidor. Essas atividades transformam o consumo passivo em uma experiência de aprendizado ativo.
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Estabeleçam Acordos Coletivos: Definam regras claras e realistas sobre o uso de telas, como horários, locais (evitando o uso durante as refeições, por exemplo) e tipos de conteúdo permitidos. É importante que essas regras sejam construídas em conjunto e se apliquem a todos na casa, fortalecendo o senso de coerência e respeito mútuo.
A tarefa de educar para as mídias é compartilhada entre a escola e a família, mas é no lar que os valores éticos e os laços de confiança são fortalecidos. Ao assumir um papel ativo, os pais não estão apenas protegendo seus filhos de perigos, mas os empoderando para se tornarem cidadãos digitais conscientes, criativos e responsáveis, capazes de usar a tecnologia para aprender, colaborar e transformar o mundo para melhor.