Como psicopedagoga, observo diariamente os desafios e as potencialidades que permeiam o processo de aprendizagem. Hoje, um dos maiores vetores de influência no desenvolvimento cognitivo, social e emocional de crianças e adolescentes é, sem dúvida, o ambiente digital.
Mergulhados em um oceano de informações, eles não são mais apenas consumidores passivos, mas também produtores e disseminadores de conteúdo. É neste cenário complexo que a educação midiática surge não como uma disciplina opcional, mas como um pilar essencial para a formação de cidadãos saudáveis, críticos e atuantes.
Do ponto de vista psicopedagógico, a mente em desenvolvimento é particularmente vulnerável. Crianças e adolescentes ainda estão construindo as estruturas cognitivas necessárias para a análise crítica, o discernimento entre fato e opinião e a compreensão de intenções subliminares. A exposição massiva a conteúdos, sem a devida mediação, pode trazer riscos significativos, como:
- Dificuldade de discernimento: Uma pesquisa da OCDE revelou que 67% dos jovens brasileiros não sabem distinguir um fato de uma opinião, tornando-se alvos fáceis para a desinformação.
- Impacto na saúde mental: A desinformação pode gerar pânico e medo, como visto em desafios virais perigosos, além de expor os jovens ao cyberbullying e à pressão social.
A educação midiática, portanto, vai muito além de ensinar a usar ferramentas digitais. Trata-se de um processo de alfabetização para o século XXI, que visa desenvolver competências socioemocionais e cognitivas fundamentais. O objetivo é formar indivíduos capazes de:
- Analisar criticamente: Ensinar os alunos a questionar a informação, verificar fontes, identificar vieses e reconhecer a diferença entre notícia, publicidade e conteúdo patrocinado. Isso fortalece o pensamento crítico, uma competência prevista na Base Nacional Comum Curricular (BNCC).
- Compreender o ambiente midiático: Ajudá-los a entender como os algoritmos funcionam, o que são bolhas informacionais e como as plataformas digitais moldam a percepção da realidade.
- Produzir e participar com responsabilidade: Capacitá-los a se expressar de forma ética e segura, compreendendo o impacto de suas palavras e ações no ambiente online e promovendo uma cidadania digital ativa.
Como implementar na prática escolar?
A educação midiática não precisa ser uma matéria isolada. Ela deve permear o currículo de forma transdisciplinar. Professores de todas as áreas podem, por exemplo:
- Utilizar notícias e reportagens para debater temas atuais, ensinando a checar a veracidade dos fatos.
- Promover a criação de projetos como jornais digitais, podcasts ou blogs escolares, colocando os alunos no papel de produtores de conteúdo conscientes.
- Analisar peças publicitárias, memes e vídeos virais em sala de aula, discutindo as técnicas de persuasão utilizadas.
Ao investirmos na educação midiática, estamos equipando nossos alunos com as ferramentas necessárias para navegar com segurança e autonomia no complexo mundo informacional de hoje. Mais do que proteger, estamos empoderando-os para que se tornem pensadores críticos, comunicadores eficazes e cidadãos plenos, capazes de construir uma sociedade digital mais justa, informada e democrática.
Bibliografia