Como psicopedagoga, compreendo que receber o diagnóstico de um transtorno de fala ou linguagem como a dislalia ou a disfasia pode gerar muitas dúvidas e inseguranças nos pais. No entanto, é crucial entender que a família é a principal engrenagem no processo de desenvolvimento e superação da criança. O ambiente familiar pode ser tanto um porto seguro que impulsiona o progresso quanto, sem a devida orientação, uma fonte de obstáculos.
Abaixo, detalho como os pais podem atuar de forma positiva e quais atitudes devem ser evitadas para não prejudicar o desenvolvimento de seus filhos.
Uma Breve Distinção: Dislalia e Disfasia
Para começar, é importante diferenciar os dois quadros, embora ambos necessitem de acompanhamento profissional, geralmente de um fonoaudiólogo.
- Dislalia: É um distúrbio da fala, focado na articulação. A criança tem dificuldade em pronunciar corretamente certos fonemas ou palavras. Um exemplo clássico é a troca do "R" pelo "L", como falar "balata" em vez de "barata". Geralmente, não há uma lesão cerebral envolvida.
- Disfasia: É um transtorno do desenvolvimento da linguagem, mais complexo e abrangente. A dificuldade não está apenas na produção dos sons, mas na capacidade de compreender e/ou expressar ideias e formular frases. A criança pode ter um vocabulário limitado e dificuldade em organizar narrativas.
Como os Pais Podem AJUDAR
O apoio familiar é a base para que a criança se sinta segura e motivada. A seguir, apresento atitudes construtivas:
- Seja um Bom Modelo de Fala:
- Fale de forma clara e pausada: Converse com a criança olhando nos olhos, articulando bem as palavras, sem infantilizar a fala. Use frases completas e gramaticalmente corretas.
- Não imite a fala errada: Mesmo que pareça "bonitinho", repetir a pronúncia incorreta da criança reforça o padrão errado e pode estimular a continuidade do problema. A melhor abordagem é repetir a palavra da forma correta, de maneira natural.
- Crie um Ambiente de Estímulo e Paciência:
- Leia em voz alta todos os dias: A leitura expande o vocabulário e familiariza a criança com as estruturas das frases e os sons das palavras. Gibis, contos e até receitas podem ser ótimas ferramentas.
- Transforme exercícios em brincadeiras: Atividades lúdicas como jogos de mímica, teatro de fantoches, músicas e trava-línguas (adaptados à capacidade da criança) tornam a prática da fala divertida.
- Valorize o esforço, não apenas o resultado: Elogie a tentativa de comunicação da criança. O importante é que ela se sinta encorajada a tentar, mesmo que erre.
- Siga as Orientações Profissionais:
- Busque um diagnóstico correto: O primeiro passo é consultar um especialista, como um fonoaudiólogo, para uma avaliação precisa.
- Pratique os exercícios em casa: Os exercícios recomendados pelo terapeuta devem ser incorporados à rotina diária. A consistência é fundamental para o progresso.
- Mantenha a comunicação com a equipe multidisciplinar: O trabalho conjunto entre pais, fonoaudiólogo, escola e, se necessário, outros profissionais (como psicólogos e neuropediatras) é essencial.
O Que os Pais Devem EVITAR
Atitudes negativas, mesmo que bem-intencionadas, podem gerar ansiedade, baixa autoestima e resistência ao tratamento.
- Não Corrija de Forma Agressiva ou Humilhante:
- Evite frases como "Você falou errado de novo!" ou "Não é assim que se fala!". Isso pode fazer com que a criança se sinta envergonhada e se recuse a falar.
- Não a force a repetir a palavra várias vezes seguidas. A pressão excessiva pode causar bloqueios e frustração.
- Não Faça Comparações:
- Nunca compare a fala da criança com a de irmãos, primos ou colegas. Cada indivíduo tem seu próprio ritmo de desenvolvimento. Comparações podem minar a autoconfiança da criança.
- Não Demonstre Impaciência ou Ansiedade:
- Evite completar as frases da criança o tempo todo. Dê a ela o tempo necessário para se expressar, mesmo que seja um processo mais lento.
- Não trate a criança como incapaz. A dificuldade na fala não significa uma incapacidade em outras áreas. Valorize suas outras qualidades e habilidades.
- Não Ignore o Problema:
- Não presuma que "é só uma fase" ou "com o tempo passa". Embora trocas na fala sejam comuns em certa idade, a persistência delas, especialmente após os 4 ou 5 anos, indica a necessidade de avaliação profissional. A intervenção precoce é sempre o melhor caminho.
A jornada pode ter seus desafios, mas com amor, paciência e a orientação correta, os pais se tornam os maiores aliados de seus filhos, capacitando-os a desenvolver todo o seu potencial de comunicação e a construir uma autoestima sólida e saudável.
Bibliografia
- guiainfantil.com
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