Na prática psicopedagógica, é comum nos depararmos com crianças que, por diferentes razões, assumem posturas, responsabilidades e comportamentos que não condizem com sua idade. Esse fenômeno recebe o nome de adultização. Trata-se de um processo no qual a criança é exposta precocemente a papéis, situações ou responsabilidades que pertencem ao universo adulto, comprometendo assim o curso natural de seu desenvolvimento emocional, social e cognitivo.
A adultização pode ocorrer de várias formas: quando a criança é colocada na posição de “amiga” ou “confidente” dos pais; quando assume responsabilidades de cuidado com irmãos mais novos; quando é exposta a conteúdos midiáticos inadequados para sua idade; ou ainda quando recebe cobranças e expectativas que extrapolam sua maturidade.
Embora muitas vezes aconteça de forma sutil e até inconsciente, esse processo traz perigos significativos. Entre eles:
- Prejuízo na infância: a criança deixa de vivenciar etapas fundamentais de brincar, explorar e aprender dentro de sua faixa etária.
- Sobrecarga emocional: assumir responsabilidades e preocupações além do que pode suportar gera ansiedade, insegurança e sentimento de insuficiência.
- Confusão de papéis: a criança passa a não saber diferenciar o que pertence ao mundo adulto e o que faz parte de sua vida infantil, gerando dificuldades de relacionamento e de construção da própria identidade.
- Impacto na aprendizagem: a maturidade cobrada precocemente pode afetar a atenção, a criatividade e a motivação para aprender, já que a criança está ocupada em lidar com exigências emocionais que não são dela.
- Risco de vulnerabilidade social: crianças adultizadas podem parecer mais “independentes”, mas isso também as torna mais expostas a situações de exploração ou abuso, justamente pela falsa ideia de que já são maduras o suficiente para lidar com o mundo.
O papel da escola
A escola, junto da família, exerce papel fundamental na prevenção e no enfrentamento da adultização. Algumas ações possíveis são:
- Valorização do brincar: garantir espaços e tempos destinados ao lúdico, reconhecendo que brincar é um direito da criança e parte essencial de seu desenvolvimento.
- Atenção ao comportamento: observar sinais de maturidade precoce ou preocupações excessivas que podem indicar que a criança está assumindo papéis que não lhe cabem.
- Diálogo com a família: orientar pais e responsáveis sobre a importância de respeitar o tempo da infância, reforçando que cada fase é única e insubstituível.
- Apoio emocional: oferecer projetos de acolhimento, rodas de conversa e acompanhamento psicopedagógico, possibilitando que a criança expresse seus sentimentos e preocupações.
- Currículo equilibrado: planejar práticas pedagógicas que unam responsabilidade e autonomia com atividades lúdicas, respeitando o ritmo natural de cada faixa etária.
Do ponto de vista psicopedagógico, é fundamental que família e escola reconheçam que cada fase da infância tem sua importância e deve ser respeitada. O brincar, o aprender de forma lúdica e o convívio protegido são elementos estruturantes para a saúde mental e para o desenvolvimento global da criança.
Proteger a criança da adultização não significa superprotegê-la, mas sim garantir que viva sua infância com segurança, afeto e limites adequados, permitindo que construa gradualmente as competências necessárias para, no futuro, assumir papéis adultos de maneira saudável.
Quando a escola se torna um espaço de proteção, afeto e desenvolvimento integral, contribui não apenas para a aprendizagem formal, mas também para que a criança viva sua infância de forma plena, segura e saudável.