A escola e seus profissionais, incluindo psicopedagogos, têm um papel fundamental no acolhimento e desenvolvimento de alunos com Síndrome de Tourette. As estratégias se concentram em três pilares: compreensão, adaptação e colaboração.
O Papel da Escola e da Psicopedagogia
A abordagem principal não é "curar" ou eliminar os tiques, mas criar um ambiente que minimize o estresse e a ansiedade, que podem intensificá-los, e que promova a inclusão e o sucesso acadêmico e social do aluno.
1. Compreensão e Sensibilização:
- Entender a Involuntariedade: A primeira e mais crucial etapa é que toda a equipe escolar, especialmente os professores, compreenda que os tiques (motores ou vocais) são involuntários. O aluno não os produz para chamar a atenção ou desafiar a autoridade.
- Educar a Comunidade Escolar: É papel da escola, com o apoio da psicopedagogia, promover a conscientização sobre a síndrome para os outros alunos e funcionários. Explicar de forma simples o que é a Tourette ajuda a reduzir o bullying e a criar uma rede de apoio.
- Ignorar Tiques Menores: A regra geral é ignorar os tiques que não atrapalham significativamente a aula. Chamar a atenção para eles pode aumentar a ansiedade e, consequentemente, a frequência e a intensidade dos tiques.
2. Adaptações Pedagógicas e no Ambiente:
- Flexibilidade nas Avaliações: Alunos com Tourette podem ter dificuldades com a escrita (disgrafia) ou com a leitura. Alternativas como avaliações orais, gravadas, uso de computadores para escrever ou mais tempo para realizar as tarefas são estratégias eficazes.
- Pausas Estratégicas: Permitir que o aluno faça pequenas pausas durante a aula pode ajudar a aliviar a tensão acumulada ao tentar suprimir os tiques. Essas pausas podem ser uma ida ao bebedouro ou a entrega de um recado.
- Localização na Sala de Aula: Dependendo do caso, sentar-se na frente pode ajudar na concentração, enquanto um lugar mais reservado pode oferecer mais conforto para o aluno liberar seus tiques de forma discreta.
- Adaptações para Comorbidades: É muito comum que a Síndrome de Tourette venha acompanhada de TDAH, TOC ou dificuldades de aprendizagem. As estratégias pedagógicas devem levar isso em conta, utilizando instruções claras e segmentadas, alternando tipos de tarefas e usando recursos visuais e auditivos.
3. Colaboração e Apoio Contínuo:
- Parceria com a Família: A comunicação constante entre a escola e os pais ou responsáveis é vital. Essa parceria permite alinhar estratégias, compartilhar progressos e desafios, garantindo um suporte coeso para a criança.
- Plano de Apoio Individualizado: A criação de um plano de apoio, como o Plano de Ensino Individualizado (PEI) ou o Plano 504 (nos EUA), é uma ferramenta formal para documentar as necessidades e as adaptações para o aluno. Esses planos devem focar em criar um ambiente de apoio, e não em metas para reduzir os tiques.
- Equipe Multidisciplinar: O sucesso do aluno depende do trabalho conjunto de professores, coordenadores, psicopedagogos, psicólogos e outros profissionais de apoio. O psicopedagogo pode atuar como mediador, orientando os professores e facilitando a comunicação com a família e terapeutas externos.
Direitos do Aluno
É importante notar que projetos de lei no Brasil buscam classificar a Síndrome de Tourette como uma deficiência para todos os fins legais, o que reforçaria o direito a suporte especializado na escola e outras garantias previstas no Estatuto da Pessoa com Deficiência. Isso inclui o direito a um profissional de apoio escolar, se necessário.
Em resumo, a escola se torna um ambiente positivo para o aluno com Tourette quando age com empatia, flexibilidade e informação, transformando o desafio em uma oportunidade de aprendizado e inclusão para toda a comunidade.